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Stranger Things 4

Quarta temporada da série da Netflix traz o novo vilão Vecna e os personagens adolescentes agora mais crescidos e em diferentes lugares

Texto por Tais Zago

Foto: Netflix/Divulgação

Foram longos três anos de espera, mas finalmente no dia 27 de maio estreou na Netflix a tão aguardada quarta temporada do cult hit Stranger Things. Poucas séries reuniram, até hoje, um fã-clube tão leal ao nível de Game Of ThronesLosou The Walking DeadStranger Things repetiu essa façanha. Há exatos seis anos estreava na plataforma de streaming uma nova viagem cultural aos gêneros da nossa infância, primeiro embarcando no hype do revival dos anos 1980 e depois permanecendo pela competência de seus atores e criadores.

Pensando nisso os irmãos Duffer, criadores da série, não economizaram esforços (e dinheiro) e nos apresentam um show de opulência em episódios que, por vezes, ultrapassam uma hora de duração. Para aumentar ainda mais a expectativa (e despedaçar a paciência dos fãs mais afoitos), essa quarta viagem ainda foi dividida em duas etapas. A primeira trouxe sete deles, adiando o showdown em forma de dois episódios – incluindo um gran finale com a extensão de um longa – para o primeiro dia de julho. Sim, Netflix quis fazer render um de seus carros chefes e nós, como fãs, obviamente, aceitamos as regras.

Nessa nova etapa, batizada Stranger Things 4 (EUA, 2022 – Netflix), reencontramos nossos “heróis” crescidos, apesar de temporalmente ter se passado apenas alguns meses do fim da terceira temporada – o hiato de três anos nas produções, devido à pandemia, não permitiu que fosse diferente. Estamos agora diante de adolescentes, não mais de crianças, assim como os personagens os temas abordados se tornam mais maduros. O monstro da vez, ainda que coabitante do Mundo Invertido (Upside Down), não é mais um Demogorgon ou um Demodog – criaturas que tem como mero objetivo se alimentar e dominar humanos. O novo monstro, curiosamente nomeado Vecna, inspirado nos jogos de Dungeons & Dragons da garotada, quer possuir e manipular os vulneráveis que encontra pelo seu caminho. 

Para complicar ainda mais as coisas, temos a divisão da história em três diferentes locações. Na Califórnia, seguimos a trajetória de Eleven (Millie Bobby Brown), Joyce (Winona Ryder), Will (Noah Schnapp) e Jonathan (Charlie Heaton), na tentativa de reconstruir uma nova vida após os acontecimentos do final da terceira temporada. O segundo grupo, em Hawkins, é formado pelo resto da patota – Mike (Finn Wolfhard), Dustin (Gaten Matarazzo), Lucas (Caleb MacLaughlin), Max (Sadie Sink), Steve (Joe Keery), Nancy (Natali Dyer) e Robin (Maya Thurman-Hawke) – e tenta se adaptar a mais um ano de escola e trabalha os traumas e as cicatrizes deixadas pelos monstros. Vem ainda um terceiro cenário representando uma prisão russa em meio ao severo inverno siberiano, cujo significada aprendemos logo nos primeiros capítulos. Além disso, ainda voltamos para a “clínica” onde Eleven fora criada e treinada: passeamos pelo seu passado, revisitamos antigos personagens e conhecemos novos. Com tantas pontas soltas, pode ficar meio difícil dedicar a mesma atenção para todos os acontecimentos paralelos. Impossível captar todas as referências ao cinema e à cultura popular norte-americana da década de 1980. Porém, todos esses enredos estão interligados, como um quebra-cabeça que começamos a montar pelas beiradas e no final nos leva para o encontro no centro.

Esteticamente, mais uma vez, não são poupados esforços em matéria de ambientação, cenários, música e efeitos especiais. O investimento material foi pesado e o resultado visual é bastante convincente, inclusive incorporando a mais recente febre do CGIs – o “rejuvenescimento” digital de atores para cenas de flashback. Mesmo com tudo isso nas mãos, alguns episódios parecem um tanto arrastados, pelo menos para o ritmo ao qual estamos acostumados nesta franquia. É inegável que Stranger Things tem ainda os seus momentos – num deles, em especial, roemos as unhas até os cotovelos tendo como pano de fundo a maravilhosa Kate Bush e seu hino “Running Up That Hill” (automaticamente catapultado, depois disso, para o primeiro lugar nas paradas musicais dos Estados Unidos, um lugar onde a artista nunca esteve) ou gargalhamos com as trapalhadas de Eddie (Joseph Quinn) e Argyle (Eduardo Franco), dois novos personagens apresentados como alívio cômico em uma temporada especialmente tensa e macabra repleta de situações de bullying, gore e terror psicológico.

Stranger Things cresceu e passa pela puberdade. Com isso, em nenhum momento deixa de fora o teenage angst de seu cardápio de atrocidades onde adultos continuam como personagens aleatórios e alienados enquanto os jovens, praticamente sozinhos, salvam o mundo nos quintais de Hawkins. E se após tudo isso alguém ainda não se sentiu compelido a assistir, cito como argumento final a brilhante participação de Robert Englund, que interpretou o icônico vilão Freddie Krueger na famosa franquia A Nightmare On Elm Street (A Hora do Pesadelo, no Brasil), em um dos episódios.