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Mães Paralelas

Nova obra de Pedro Almodóvar retoma a veia melodramática do cineasta em história sobre maternidade e com tom político

Texto por Marden Machado (Cinemarden)

Foto: Netflix/Divulgação

O cineasta espanhol Pedro Almodóvar é não apenas um dos maiores artistas de seu país, mas do mundo todo também. Trabalhando com audiovisual desde de 1974, quando dirigiu seu primeiro curta, sua carreira se consolidou a partir do ano de 1980, quando realizou seu longa de estreia. Ao longo de uma sólida e bastante autoral filmografia, o universo feminino sempre foi um tema recorrente em sua obra. E Mães Paralelas (Madres Paralelas, Espanha, 2021 – Netflix) reforça essa marca registrada do diretor e roteirista.

Temos aqui um novo ingrediente: a política. Tudo começa quando a fotógrafa Janis (Penélope Cruz) conhece Arturo (Israel Elejalde), um especialista forense. Esse encontro estabelece uma parceria que torna possível a ela iniciar o trabalho de busca dos restos mortais de familiares mortos durante a ditadura de Franco na Espanha. Uma gravidez inesperada faz com que Janis se aproxime de Ana (Milena Smit), uma jovem igualmente grávida. As duas se tornam mães juntas e as acompanhamos, em paralelo, ao outro tema de conteúdo político.

Em Mães Paralelas, um projeto que o cineasta vinha desenvolvendo desde Abraços Partidos, de 2009, o melodrama se faz presente e, como de costume na obra do diretor, é muito bem trabalhado. O caprichado desenho de produção junto com uma bela trilha sonora composta por Alberto Iglesias, aliados às interpretações precisas de Penélope e Milena reforçam ainda mais as qualidades de uma obra ímpar que trata de maternidade, laços familiares, política e ciência de maneira orgânica. Nas mãos de um artista menos talentoso, seria terreno fértil para um desastre completo. Não é o caso de Pedro Almodóvar, um cineasta que continua inquieto, criativo, sensível e genial e que vinha de um tocante relato autobiográfico (Dor e Glória, 2019).