Music, Videos

Clipe: Vaccines – I Can’t Quit

Artista: Vaccines

Música: I Can’t Quit

Álbum: Combat Sports (2018)

Por que assistir: Justin Hayward-Young é um dos maiores compositores do rock inglês desta década. Também pudera. Passou anos de sua adolescência aprendendo as manhas na base. Sob o pseudônimo de Jay Jay Pistolet, apresentava-se sozinho, voz e violão, com um repertório composto por suas próprias canções. Dividiu, por um bom tempo, o apartamento com músicos de outras bandas. Um deles era Marcus Muford, o homem de frente (e autor das músicas) do Mumford & Sons. Em 2009, quando a nova onda do folk tomava de assalto a cena musical de Londres e o Mumford and Sons passava do estágio “banda sempre com shows lotados” para o megaestrelato pop ao lançar seu primeiro álbum, Justin fazia o caminho contrário e formava a sua banda, o Vaccines. Para tocar canções pop, com arranjos viscerais, apostando na crueza das guitarras e na pulsação da bateria para embelezar ainda mais as letras e melodias. Deu certo e em 2011, com o debut What Did You Expect From The Vaccines?. Disco curto, faixas direto ao ponto, diversos hits. O trabalho posterior, logo no ano seguinte, ainda prolongou um pouco mais a chama inicial da banda. Agora em 2018, Justin e sua turma (agora contando com um quinto integrante oficial) anunciam para março o quarto álbum, que leva o nome de Combat Sports. Após um intervalo de três anos (no terceiro disco, tentaram escapar para uma sonoridade mais pop e não deu certo) o Vaccines promete uma nova guinada, desta vez voltando às raízes. Arranjos que misturam melancolia e euforia; guitarras poderosas adornando doces melodias (influência de Big Star e Guided By Voices); versos sobre amor, sexo, relacionamentos acabados e, bem… aquela nova juventude típica de quem entra na casa dos trinta anos passa a carregar. No que depender do que foi apresentado primeiro clipe, com a faixa “I Can’t Quit”, o mundo pode voltar a esperar bastante dos Vaccines.

Texto por Abonico R. Smith

 

Movies

Me Chame Pelo Seu Nome

Tente não se emocionar com a história da descoberta do novo mundo adulto por um adolescente americano morando na Itália no ano de 1983

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Texto por Abonico R. Smith

Foto: Sony Pictures/Divulgação

Existe uma bela expressão em inglês chamada “come of age”. Traduzindo literalmente para o português fica “chegada da idade”, embora a palavra maturidade caiba melhor. Seu significado é o que todo mundo vivencia quando chega a etapa adulta da vida. Ficam para trás todas as despreocupações da infâncias e as atitudes sem muitas consequências da adolescência. Crescimento pessoal, um novo entendimento da sociedade e a noção de responsabilidade emocional são alguns dos elementos muito importantes que passam a ser percebidos neste período.

Aos dezessete anos de idade Elio Perlman começa a perceber que sua vida já mudou em Me Chame Pelo Seu Nome (Call Me By Your Name, França/Itália/EUA/Brasil – Sony Pictures), que chega agora aos cinemas brasileiros sob a perspectiva de várias indicações para o Oscar e na esteira de outras premiações da temporada. Filho único de uma família de intelectuais judeus americanos que moram em uma pequena cidade italiana (o pai, que comanda o trabalho em um importante sítio arqueológico na região; a mãe, tradutora), ele passa todo o tempo do mundo dividido entre vários idiomas (italiano, francês, inglês, alemão), o gosto pela leitura constante de romances literários, o talento de tocar e criar música ao piano, os headphones ligados a um walkman, um ou outro cigarro aceso na boca, bicicletas, uma piscina no quintal e a mesma turma de amigos – da qual faz parte Marzia, garota apaixonada por ele mas para quem Elio não dá muita bola.

O turbilhão de emoções que passa a afetar a calmaria da vida do rapaz chama-se Oliver, um estudante enviado pela sua universidade para ser os assistente temporário das pesquisas de seu pai. Aos poucos vai brotando em Elio uma louca paixão pelo visitante, desde a típica rejeição inicial até as primeiras descobertas sexuais, incluindo os desejos, a iniciação de fato (realizada em um velho colchão no empoeirado sótão de casa com a mesma Marzia) e as experiências “nada secretas” com Oliver.

Adaptado de um romance literário homônimo e ambientado no verão de 1983, o filme merece muito mais atenção do que simplesmente seu principal chamariz para a mídia – a relação homoafetiva entre um adolescente e um rapaz dez ano mais velho. É uma sensível obra dirigida pelo italiano Luca Guadagnino (que em 2005 levara às telas 100 Escovadas Antes de Dormir, outra produção de erotismo teenager vinda dos livros) ajudada pela estética da fotografia sempre solar do indiano Sayombhu Mukdeeprom – que explora os raios sol refletidos em belas localidades em vilarejos e microcidades italianas – mais o roteiro do experiente americano James Ivory (diretor de Vestígios do Dia e Retorno a Howards End e com três indicações ao Oscar nesta categoria) e a deliciosa trilha sonora que mistura pérolas pop da época (o hit do filme Flashdance “Lady Lady Lady”, Loredana Berté, Ryuichi Sakamoto, Psychedelic Furs) e três faixas do ícone indie Sufjan Stevens, sendo duas delas escritas especialmente para o longa.

Contando com uma excelente performance do jovem e promissor ator Timothée Chalamet, nome certo entre os indicados de todas as premiações da temporada, o protagonista ao pouco vai descobrindo um novo mundo e não apenas com e por causa de Oliver (Armie Hammer com aquela chance de mostrar ser mais do que um ator de rostinho – e um corpinho – bonito). É esta a dramática “jornada do herói” que realmente conta para emocionar o telespectador até o último momento. Aliás, a conversa franca entre pai e filho sobre a relação com Oliver somada à derradeira cena que invade a exibição dos créditos finais são de dilacerar o coração, mesmo que levem o filme para um caminho diferente do livro.