Music

Bruce Dickinson – ao vivo

Vocalista do Iron Maiden inicia turnê brasileira do novo disco solo, The Mandrake Project, fazendo mágica sonora para o público de Curitiba

Texto e foto por Daniela Farah

Hipnose, olhos, gestos das mãos são poderes telepáticos usados pelos melhores mágicos do mundo. Enquanto o público olha para a direita, ele tira um coelho da cartola, na mão esquerda. Sinônimos de ousadia, mestre das fugas, senhor das sombras, mandrake, são vários apelidos dados aos ilusionistas. Ainda que Bruce Dickinson não se aposse desse título, ele veste a carapuça muito bem. Ou melhor, a cartola. E assim o fez na noite de 24 de abril, na Live Curitiba. A estreia da sua Mandrake Project Tour contou com um roteiro estruturado e muitos truques de quem é bem experiente.

A noite começou com a abertura de Clash Bulldog’s, que entregou um show animado, com bastante conexão com o público, que respondeu muito bem as interações. Cabe aqui um adendo em dizer que a primeira atração tem uma missão sempre muito difícil e que pode gerar um desses três sentimentos: deixar o público entediado, desvirtuar as pessoas ou animá-las para a próxima atração. Quem sabe o que está fazendo escolhe as duas últimas opções. A banda de Nova Friburgo (RJ) incluiu em seu repertório de músicas autorais um cover de “Sad But True”, do Metallica. FIzeram todo mundo cantar junto e esquecer a ansiedade.

Já havia passado das 21 horas e o palco ainda estava sendo arrumado para a estrela da noite. Por causa de alguns prováveis problemas de telão, o show atrasou uns 15 minutos. O que não significou absolutamente nada para os fãs, que o receberam com a gritaria habitual e os milhares de celulares apontados para o palco, na intenção de registrar os primeiros momentos do artista em palco brasileiro.

Bruce Dickinson veio ao Brasil acompanhado da House Band Of Hell, formada por Chris Declercq e Philip Näslund (guitarras), Mistheria (teclados) e Dave Moreno na bateria. Mas quem brilharia mesmo no palco seria a baixista Tanya O’Callaghan, que já tocou com Whitesnake, Dee Snider, Orianthi, Steven Adler (Guns N’ Roses), Nuno Bettencourt (Extreme) e mais uma lista enorme de estrelas do rock. Demonstrando muita técnica e carisma, ela vem se destacando lá fora.

Eis que, como um passe de mágica, os olhos dos fãs brilhavam. Então, Dickinson mostrou um cinco de copas numa mão, nada na outra e tirou um coelho brilhante da cartola. Vou explicar.

Bruce entrou direto com a sequência “Accident of Birth”, do álbum de mesmo nome; “Abduction”, de Tyranny Of Souls; “Laughing In The Hiding Bush”, de Balls to Picasso; “Afterglow Of Ragnarok, de The Mandrake Project. Vale lembrar que este foi o primeiro single do novo álbum, lançado no último 30 de novembro, na CCXP23.

Daí o músico cantou uma das favoritas da noite. “Chemical Wedding”, de The Chemical Wedding, foi um dos momentos mais bonitos na interação com o público, que surpreendeu Bruce, cantando mais alto que ele em um coro, não tão afinado mas com o coração cheio. As luzes se acenderam e sua cara de satisfação ficou exposta. Fechava-se assim um belo cinco de copas, conectado direto ao mesmo coração inebriado dos fãs.

“Caros cidadãos de Curitiba! Nós nos divertimos ontem, bebendo cerveja e dirigindo motocicletas e ansiosos para ver você em todos os lugares, motherfucka. Então, vamos lá! Wstamos de volta com essa banda incrível, mostrando para vocês o primeiro show no Brasil. Faremos muitas coisas, todos os tipos de coisas, em todos os lugares”, disse Bruce antes de anunciar “Many Doors To Hell”, que fala sobre uma vampira que cansou de morder pessoas.  Um silêncio reinou durante boa parte da música, até que o artista pediu palmas, e, claro, foi atendido. Estava, então, na hora de tirar o coelho da cartola, correto?

“Este é um momento muito perigoso. Esta [música] não é de The Project Mandrake. Vou deixar para vocês adivinharem”, provocou. Logo os primeiros acordes começaram e o público respondeu emocionado e com o celular em mãos. “Tears Of The Dragon”, um dos hits mais icônicos da carreira solo de Bruce Dickinson. Tinha gente tremendo, chorando, cantando, de olhos fechados e, claro, gravando o momento para rever depois.

Se o vocalista já tinha usado seus maiores números antes da metade do show, o que poderíamos esperar para a segunda parte? Experiente como é, ele sabe que nada poderia chegar aos pés dessa emoção para o público. Então, incluiu duas músicas do álbum novo: “Resurrection Men” e “Rain On The Graves”.

Passado o frisson, a instrumental “Frankenstein” (cover do Edgar Winter Group) mostrou um Bruce realizando um sonho de criança, tocando percussão. E não foi só isso: a mensagem na tela, feito grafismo de filme mudo, já avisou: “Oh, Meu Deus! Isso é um teremim!”. E lá foi ele tocar o prosaico instrumento. E toda essa encenação foi durante a execução da música.

E assim, como o experiente ilusionista que é, o vocalista não tardou a desaparecer um pouco tempo depois na cortina de aplausos, deixando os clássicos na memória.

Set list Clash Bulldog’s: “Intro”, “Prophets Of Time”, “Tears Of Blood”, “Take The Liars Down”, “Sharp Teeth”, “Them Bones”, “Sad But True”, “Evil Within” e “Anger Grows”.

Setlist Bruce Dickinson: “Accident Of Birth”, “Abduction, “Laughing In The Hiding Bush”, “Afterglow Of Ragnarok”, “Chemical Wedding”, “Many Doors To Hell”, “Tears Of The Dragon”, “Resurrection Men”, “Rain On The Graves”, “Frankenstein”, “Gods Of War”, “The Alchemist” e “Darkside Of Aquarius”. Bis: “Navigate The Seas Of The Sun”, “Book Of Thel” e “The Tower”.

Um comentário em “Bruce Dickinson – ao vivo”

Deixe um comentário