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Todo Dia

Adaptação de livro teen de sucesso é pura comédia romântica entretém ao levantar questões sobre o que é se apaixonar de verdade

everydaymovie2017

Texto por Flávio St Jayme (Pausa Dramática)

Foto: Paris Filmes/Divulgação

Com o recente crescimento dos romances adolescentes nas livrarias era apenas consequência natural que eles logo chegassem às telas de cinema. Depois de longas adaptados de livros como A Culpa é das Estrelas, Cidades de Papel, Como Eu Era Antes de VocêSe Eu Ficar Com Amor, Simon, chegou a vez de outro queridinho dos leitores virar filme.

Todo Dia foi sucesso de vendas no mundo todo. O romance meio filosófico de David Levithan traz a história menos comum dentre seus pares. Aqui o amor acontece não entre dois jovens, mas entre a jovem e uma “alma”. Não, não é nada nível Ghost. Vamos explicar.

A é um adolescente que tem um dom incomum: ele acorda cada dia em um corpo diferente. Sua alma, sua essência, é masculina, mas ele pode acordar amanhã no corpo de um homem ou de uma mulher. Sempre com a sua idade. A não se incomoda com isso, aprendeu a lidar com a situação desde pequeno. Até que um dia conhece Riannon e se apaixona por ela. A vai precisar então fazer de tudo para reencontrá-la e fazer com que a garota goste dele, mesmo com sua peculiaridade.

Tanto o livro de Levithan quanto o filme resvalam nas implicações morais de se “ocupar” o corpo de outra pessoa, ainda que por um dia, e A vai sempre tomar o cuidado de interferir nesta vida o mínimo possível, mas qualquer interferência é inevitável. Quando se apaixona por Riannon, o protagonista vai se ver obrigado a dividir seu segredo e a “usar” do corpo em que está para convencê-la.

Engraçado e romântico, Todo Dia (Every Day, EUA, 2017 – Paris Filmes) funciona quase como uma nova rom-com adolescente. Seus protagonistas não são chatos como de costume, seu ritmo é interessante, sua trilha sonora é bacana e mesmo as questões que ele levanta, ainda que nada muito profundas, são relevantes. Por exemplo: será que Riannon vai manter um relacionamento com A quando ele aparecer como uma garota?

Dirigido pelo novato Michael Sucsy e com Justice Smith e Anya Taylor-Joy no elenco, Todo Dia funciona como uma Sessão da Tarde que entretém sem emburrecer. A história é capaz de derreter os corações de todas as idades e que pode levantar inúmeras questões sobre o que é se apaixonar de verdade.

Movies

Com Amor, Simon

Muito mais do que girar em torno do tema “sair do armário ou não”, longa sobre adolescente gay trata sobre diferenças e como agir diante delas

 love simon 2017

Texto por Abonico R. Smith

Foto: Fox/Divulgação

Garoto do último ano da high school tem uma vida aparentemente feliz. Sua família (pais e irmã menor) transpiram aquela felicidade de comercial de margarina. Seu círculo de amigos do colégio é bastante leal e divertido. As notas do boletim não parecem incomodá-lo. Entretanto, Simon sofre em segredo por uma coisa: descobriu-se gay já há algum tempo e não sente confiança suficiente para contar isso a ninguém. Só começa a criar coragem quando aparece no blog dos alunos da escola uma série de posts, também anônimos, sobre o que é sentir atração por outros garotos e passa a trocar confidências com o incógnito autor deles.

Adaptado do romance Simon vs The Homo Sapiens Agenda, o filme Com Amor, Simon (Love, Simon, EUA, 2018 – Fox) merece um olhar muito mais apurado sobre suas entrelinhas do que necessariamente a temática LGBT que necessariamente estará atrelada a ele em todas as conversas e textos sobre a história. Mais que o fato de ser gay ou não e de escolher o melhor momento para tornar isso público às pessoas que gravitam ao seu redor no dia a dia, esta é uma história sobre diferenças e como se comportar diante da manifestação pública a respeito delas.

Este é o grande mote por trás da história de Simon (Nick Robinson), seus amigos, sua família. É o fato de se sentir deslocado quase sempre. Não é apenas o protagonista que sofre com isso. Seus amigos de escola também são assim. A BFF Leah (Katherine Langford) se sente invisível diante do garoto pelo qual ela é apaixonada. Abby (Alexandra Shipp) acabou de se mudar para a cidade por causa de problemas familiares dos quais sente vergonha e, por isso, ainda não se sente tão enturmada assim. Martin (Logan Miller) é o piadista e gozador da turma e, em determinados momentos, diz e faz o que não deve. Nick (Jorge Lendeborg Jr) é talentoso no futebol, mas o esporte não é muito popular na escola e perde de longe para o tradicional futebol americano.

E assim decorre uma trama dramática aparentemente ingênua, com muitas tiradas de humor, mas que pode ser muito útil para quem estiver assistindo. Que nem foi Juno (2007) ao falar sobre gravidez na adolescência. Pequena Miss Sunshine (2006) ao tratar de uma família disfuncional. As Vantagens de Ser Invisível sobre o sentimento de solidão após o suicídio do melhor amigo. O filme pontua os momentos de extrema dificuldade emocional de Simon ao enfrentar situações delicadas como o confronto com o machismo escancarado do pai em casa, a chantagem para manter guardado o grande segredo de sua vida, o outing involuntário, a rejeição dos amigos mais próximos pela falta de confiança, a exposição ao ridículo no colégio e sobretudo a tão temida hora de sair do armário em uma conversa cara a cara com a família.

De quebra, o espectador ainda ganha uma trilha sonora bastante descolada (assinada por Jack Antonoff, ex-namorado da atriz, diretora e roteirista Lena Dunham, que incluiu na seleção Warpaint, Kinks, Violent Femmes, 1975, Jackson 5 e mais um tantinho de sua atual banda, o Bleachers) é flodado por cenas e mais e mais cenas que relação de dependência tecnológica que os teens do século 21 possuem.

Talvez este muito item seja o detalhe temporal que mais se conecta com os nossos tempos de maior diversidade e liberdade sexual. Se pensar que há apenas meio século a homossexualidade deixou de ser crime em território britânico, ter um longa-metragem exibido em todo o mundo que fala abertamente sobre as dificuldades que ainda existem para quem ainda enfrenta uma zona nebulosa no que se refere à sua orientação sexual. Isto sim é bastante louvável. Por isso um filme como Com Amor, Simon tem extrema importância. Pode ajudar e muito a quem é como Simon e ainda não quer/pode escancarar suas intimidades com quem está ao seu redor.