Viggo Mortensen estreia na direção com uma tocante história baseada em sua própria experiência com a demência em família
Texto por Abonico Smith
Foto: Califórnia Filmes/Divulgação
Ver um filme pode ser uma experiência catártica, sobretudo se a história for um grande drama. Muitas vezes, por se identificar bastante com quem o protagoniza, sua história, seu sofrimento e seus percalços, espectadores descarregam tudo em lágrimas ou gatilhos interiores acessados. Só que fazer um filme também pode significar a mesma coisa. Viggo Mortensen que o diga com seu Falling – Ainda Há Tempo (Falling, Reino Unido/Canadá/Estados Unidos, 2020 – Califórmia Filmes), no qual assina direção, roteiro mais boa parte da trilha sonora, além de interpretar um dos dois protagonistas.
Boa parte da história começou a ser escrita logo após o funeral de sua mãe. Ela, assim como também o pai de Viggo, passou alguns anos sofrendo de demência. Algumas das histórias sobre a doença e o convívio entre a/o paciente e os familiares que a/o cuidam, ouvidas pelo ator naquele momento, não saíram mais de sua cabeça até sua estreia como diretor se concretizar para ser exibida nas grandes telas.
E Viggo consegue transmitir delicadeza mesmo em tempos difíceis entre uma relação mantida às turras entre pai e filho. Na verdade, o pai Willis nunca mudou o jeito bronco de ser. Fazendeiro do norte do estado de Nova York, satisfaz-se em ser desagradável a todos ao redor somente pelo fato de ser desagradável, de contrariar pedidos e expectativas alheias, desde que seus dois filhos (John e Sarah nasceram). Não aceita as transformações sociais trazidas com o tempo, torce o nariz para a homossexualidade do filho (e também para o seu casamento de anos com o pai de sua enteada), tem rejeição pelo fato de Barack Obama ter sido o primeiro presidente preto eleito pelos Estados Unidos para governar a Casa Branca e não pensa duas vezes antes de provocar confusões com verborragias e atitudes. Ao mesmo tempo, Willis não entende que, por causa do avanço da demência, precisa ser (pacientemente) cuidado pelo primogênito John. Não quer mudar-se para a “progressista” Califórnia por ali ser “uma terra de bichas”. Não aceita a morte da dedicada e pacata Gwen (a mãe dos meninos) ao passo que tem alucinações sexuais com a segunda esposa Jill, aparecendo sempre em sua mente como uma voluptuosa ruiva seminua mesmo em meio de uma nevasca ao ar livre. Por tudo isso, o veterano Lance Henriksen (cujo currículo traz filmaços históricos como Um Dia de Cão e O Exterminador do Futuro) entrega uma performance intensa e monstruosa como o indomável octogenário.
O vai e vem do passado, aliás, é um trunfo constante da narrativa e vai ajudando o espectador a montar o quebra-cabeça da conturbada relação entre pai e filho. Desde pequeno, John (Mortensen, que a princípio relutava em atuar em seu próprio filme) é criado por Willis a ser um típico exemplar de macho como ele. O menino – que aparece em distintas fases de sua infância e adolescência – já aprende, bem cedo, que as situações devem ser dribladas com pacifismo, condescendência e, sobretudo, muita, muita paciência. O que poderia se tornar uma armadilha para a trama, porém, revela-se um ganho para Viggo. Não somente esses flashbacks se misturam como lembranças abruptas de uma parte quanto de outra, como também pequenos sinais externos às cenas de ontem e hoje vão sendo delicadamente distribuídos ao espectador para que ele faça a sinapse e descubra de quem é aquele lampejo naquela hora do aqui e agora.
Quando chega ao final, o “novato” diretor também revela outros dois pontos altos de seu filme. Primeiro é a engraçada (se é que durante todo o drama intenso poderia, de fato, haver espaço para algo com um ligeiro toque de humor) participação especial de David Cronenberg. O cultuado cineasta – dono de uma obra marcada pelo horror corporal – aqui é um mero médico que vai realizar o temido (pelo machão Willis, claro) exame de próstata. Por fim, quando começam a subir os créditos, Viggo mostra ao mundo a aposta nas multi-istrumentistas irmãs postiças que formam o Skating Polly, uma fofíssima dupla (trio se contar a participação do irmão de uma delas na bateria e na guitarra) formada por elas em 2009, então aos 9 e 14 anos de idade, e que conta com (já) cinco álbuns de carreira e apadrinhamento de grandes ícones do rock alternativo americano, como Exene Cervenka (vocalista da lendária punk X e primeira esposa de Mortense), Flaming Lips, Babes In Toyland, Band Of Horses, Veruca Salt, Deerhof, Mike Watt e Garbage. A canção “A Little Too Late” não só gruda de imediato na cabeça como é uma incrível força lírica e melódica que anda faltando por aí nas programações das rádios, playlists de internet e escalações de grandes festivais.
Ao realizar todas as etapas de Falling – Ainda Há Tempo, o ator, roteirista, músico e diretor Viggo Mortensen também parece ter exorcizado toda a dor passada durante seus dramas familiares – tanto que dedica o filme a seus dois irmãos mais novos, com quem dividira a turbulência enfrentada duas vezes contra a demência. Por ser um projeto autoral/pessoal em demasia, acaba se tornando uma peça verdadeira de arte e ainda imprime maior veracidade àqueles espectadores que porventura possam vir a se identificar com o sofrimento vivido por John e Sarah desde o nascimento até a meia-idade. Exibido publicamente pela primeira vez no festival de Sundance em 2020, o longa-metragem chega agora aos cinemas brasileiros, com um certo atraso provocado por causa da pandemia da covid-19. Aos mais desavisados, pode até ser algo chocante de se ver e duro de se acompanhar. Entretanto, não deixa de ser uma obra de extrema sensibilidade e que passa bem longe de tender ao tom melodramático.
Com comovente simplicidade, longa mostra o esforço de uma família de imigrantes coreanos na busca pelo sonho americano de prosperar na vida
Texto por Andrizy Bento
Foto: Galeria Distribuidora/Divulgação
Minari é uma planta originária do leste do continente asiático, com um forte sabor de ervas, utilizada para temperos na Coréia do Sul e que possui fins medicinais. Por aqui, no Brasil, alguns costumam se referir como agrião coreano. O cultivo dela na nova terra em que seus descendentes têm grande probabilidade de crescer e iniciar o seu legado é o principal elo que se forma entre uma excêntrica avó e seu aparentemente frágil e esperto neto. Assim, Lee Isaac Chung – que acumula as funções de diretor e roteirista – compõe um delicado drama familiar, repleto de camadas e com um toque autobiográfico.
Os Estados Unidos são conhecidos como a terra das oportunidades. É para onde muita gente vai disposta a correr riscos, sair da zona de conforto e, às vezes, até abrir mão do pouco que têm em busca do famigerado sonho americano. O tal sonho americano já serviu de plot para inúmeras narrativas, especialmente no grande ecrã. Já vimos filmes que retratam essa ilusão de variadas formas: românticas, idílicas, líricas, trágicas. Mas poucas vezes o tema foi abordado com tamanha honestidade e pureza como em Minari – Em Busca da Felicidade (Minari, EUA, 2020 – Galeria Distribuidora).
O longa versa sobre imigração, diferenças culturais e religiosas, dificuldades de adaptação e, sobretudo, os tão poderosos quanto tênues laços familiares. A trama é extremamente simples, focando na tocante trajetória do clã Yi, os problemas ocasionados devido à sua não familiaridade com a vida, os costumes e tradições provincianos e os conflitos geracionais emergentes da relação entre as crianças e a exótica avó.
Na trama, que se passa na década de 1980, uma família coreana deixa a cidade da Califórnia em busca de um recomeço na zona rural de Arkansas. É evidente que as coisas não saíram como o planejado no antigo lar, portanto, Jacob toma a iniciativa de mudar-se com a mulher e os filhos e começar a plantar em suas novas e inexploradas terras, dando início a uma fazenda. Sua esposa não vê com bons olhos o empreendimento arriscado de seu marido. Ela já está contrariada com a situação de ter de morar em uma casa móvel com os filhos, em um local afastado de seu novo emprego, em uma granja e, especialmente, do hospital. Isso porque o caçula, David, tem uma doença cardíaca e, segundo o que ela ouviu dos médicos na Califórnia, seu coração pode parar a qualquer momento.
O casal entra em conflito, o que aborrece os pequenos. Para agravar esse quadro de tensão, outra personagem é inserida na trama: a mãe da mãe das crianças, que chega da Coreia do Sul, com hábitos curiosos e por quem David, inicialmente, mostra uma sincera antipatia. “Ela não parece uma avó de verdade”, repete ele constantemente. Segundo o garoto, uma avó deveria saber fazer biscoitos, não deveria praguejar e nem usar roupas íntimas masculinas. Contudo, logo a antipatia se converte em curiosidade e, pouco a pouco, David vai estabelecendo uma bonita relação com a sua avó.
Lançado mundialmente no Festival de Sundance de Cinema em janeiro do ano passado, no qual se sagrou vencedor do Grande Prêmio do Júri, o longa traz ao menos um rosto conhecido do grande público, Steven Yeun (o Glenn de The Walking Dead) no elenco e na produção executiva, além do adorável ator-mirim Alan S. Kim (ganhador do prêmio de melhor ator Jovem no Critics’ Choice Awards) que forma uma deliciosamente improvável dupla com a magnânima Youn Yuh-jung (vencedora do SAG Awards de melhor atriz coadjuvante) – dois atores de faixas etárias diametralmente opostas que mostram uma inegável sintonia na tela. E é essa interação entre o afinado, grandioso e merecidamente premiado elenco que constitui a força-motriz do longa.
Ainda que pareça tentador explorar cenários tão magníficos, o diretor de fotografia, Lachlan Milne, não se rende à perfumaria, planos reverentes e eloquência na construção de imagens. Apostando em uma câmera discreta e elegante e na composição de quadros singelos que garantem naturalidade à trama, Minari apresenta paisagens luminosas, cores saturadas e vibrantes que trazem uma sensação de acalento, calidez e refúgio. Lee Isaac Chung ainda deixa seus atores à vontade em cena, extraindo boas e honestas atuações de todos eles. O realizador se preocupa em capturar a vida acontecendo na tela, filmando com extrema simplicidade. Para completar, a trilha sonora confere tanto tensão quanto melancolia a momentos bem pontuados, corroborando um clima acertadamente trágico em algumas das cenas essenciais.
Até mesmo a mensagem que Minari transmite é de uma simplicidade comovente, mas que não permite que o filme enverede pelo sentimentalismo barato. Tudo o mais pode se dissipar: os sonhos, as conquistas, a própria família, porém, o afeto e os laços perduram. Ainda que seja um momento difícil, os obstáculos enfrentados nos fortalecem. E Minari consegue nos dizer isso de modo objetivo, direto, simples, mas sem lançar mão de recursos manjados, padrões narrativos e atalhos dramáticos.
Quase todo falado em coreano e com pontuais linhas de diálogo em inglês, o filme de Lee Isaac Chung talvez seja o mais americano dos longas a chegar às telas nos últimos anos, expressando bem a aventura pelo tal sonho americano e o apresentando como um sofismo. No fim, o que resta é mesmo o sentimento que, por sua vez, não tem restrições territoriais. É universal.
>> Minari concorre no dia 25 de abril ao Oscar 2021 em seis categorias: filme, diretor, ator, atriz coadjuvante, roteiro original e trilha sonora
Vinte e cinco itens que, 25 anos após a morte de Kurt Cobain, constituem o legado da banda
Texto por Cristiano Viteck
Fotos: Reprodução
Goste ou não, você tem de concordar que o Nirvana foi a última grande banda de rock. Grande no sentido de suas músicas repercutirem muito além do mundinho da cultura pop, o que a transformou em fenômeno de massa como poucas vezes se viu.
A Nirvanamania saiu dos palcos das casas de shows, ganhou as ruas, chegou às passarelas da moda, virou dissertações de mestrado e teses de doutorado. O comportamento errático do grupo, em especial de Kurt Cobain, motivou debates na imprensa com psicólogos, médicos, religiosos, professores. Motiva até hoje algumas pessoas dedicarem suas vidas a colocar em dúvida se a morte do cantor foi mesmo suicídio ou assassinato.
O legado da banda continua a influenciar gerações nascidas no pós-Nirvana, que encontram naquela música a energia, o prazer, a raiva, as respostas ou pelo menos um ombro amigo para as angústias do dia-a-dia.
Entre aqueles que viveram a Nirvanamania no auge, além da nostalgia, ainda há que se pergunte “o que foi tudo aquilo”. Então, chovem mais livros, filmes e teses a cada ano buscando a explicação.
Neste primeiro fim de semana de abril, completam-se 25 anos do suicídio do compositor, cantor, guitarrista e líder Kurt Cobain. Especula-se que ele tenha morrido no dia 5, mas seu corpo só foi encontrado três dias depois, em sua casa em Seattle, onde passava uns dias sozinho, sem a presença da esposa Courtney Love. E como sempre acontece com astros que morrem muito cedo – e se for de forma trágica, mais ainda – o homem à frente do Nirvana teve sua imagem de jovem rebelde eternizada. Ele cheira a espírito adolescente e para sempre!
De uns tempos para cá, o rock parece cada vez mais música para gente velha. Mas o Nirvana, não. Como Kurt, a sua música também não envelheceu. Aquelas canções e letras, por mais difíceis de compreender, tratam de temas universais como o amor, o ódio, a culpa e o perdão (ou a falta dele). Por isso sempre encontrarão jovens dispostos a ouvi-la, como é natural para toda grande arte.
Os números não mentem. Um quarto de século após o fim, o Nirvana é uma força. No Spotify, seu “rival” do grunge (e ainda na ativa) Pearl Jam, soma 8 milhões de ouvintes. O Metallica, chega a 12,3 milhões. O Foo Fighters, liderado por Dave Grohl que tem presença quase diária nos portais de música com suas peripécias e projetos diversos, atinge 10 milhões de ouvintes. A rainha do pop Madonna, tem 9,4 milhões. O trio formado por Kurt, o baixista Krist Novoselic e o então baterista Grohl supera todos estes, com média de 12,5 milhões de ouvintes. Nada mal para uma banda liderada por alguém que está morto há tanto tempo.
Apresentamos, a seguir, uma lista de 25 itens (livros, discos, filmes, shows, exposição) que contribuíram para a permanência da banda e de Kurt Cobain no panteão dos deuses do rock e da cultura da rebeldia juvenil. Como toda lista, ela é incompleta. Mas serve de mapa para percorrer os caminhos trilhados até aqui pelo legado do Nirvana.
Unplugged In New York (1994)
Primeiro disco póstumo lançado, Unplugged In New York chegou às lojas em 1º de novembro de 1994. Retirado do show gravado quase um ano antes para a série Unplugged, da MTV, o registro é um dos momentos mais sublimes da carreira do Nirvana. Das 14 faixas, oito são versões de músicas da própria banda e, ainda assim, somente um hit massificado pelas rádios (“Come As You Are”, executada logo de cara). As demais foram covers do Vaselines (“Jesus Doesn’t Want Me For a Sunbeam”), David Bowie (“The Man Who Sold The World”), Meat Puppets (“Plateau”, “Oh Me” e “Lake of Fire”) e Leadbelly (“Where Did You Sleep Last Night”). Mesmo 25 anos depois, Unplugged in New York é um disco que incendeia a memória e emociona os fãs. Detalhe: há distorção no violão.
A estreia do Foo Fighters (1995)
Após o suicídio do amigo e companheiro de banda, o baterista Dave Grohl quase desistiu da música. Por sorte, mudou de ideia e seguiu em frente com um novo projeto, agora como vocalista, guitarrista e compositor. O álbum de estreia do Foo Fighters – que leva apenas o nome da banda – foi lançado em 4 de julho de 1995 pelo selo Roswell, criado pelo próprio Grohl. Foi ele quem tocou todos os instrumentos no disco. Este é o trabalho mais cru da carreira do Foo Fighters e aquele que mais se aproxima da sonoridade do Nirvana. Para o álbum foi resgatada a canção “Winnibago”, presente no álbum Pocketwatch, trabalho solo pouco conhecido que Dave Grohl lançou em 1990 sob o pseudônimo Late!, pouco antes de ocupar em definitivo a vaga de baterista do trio. Deste mesmo disco, o Nirvana gravara anteriormente “Colour Pictures of a Marigold”, mas batizada apenas como “Marigold”. A canção, única música cantada e de autoria de Dave Grohl no Nirvana, foi o lado B do single “Heart-Shaped Box”.
O primeiro disco ao vivo com guitarras (1996)
O segundo disco póstumo traz a banda no seu habitat natural. From The Muddy Banks Of Wishkah é uma coletânea de 17 canções gravadas em diferentes shows entre 1989 e 1994. A maior parte da compilação traz o Nirvana em sua melhor forma, quando a apatia e as drogas ainda não haviam roubado o brilho e a energia de Kurt Cobain no palco ou fora dele. A cereja do bolo deste repertório é a faixa ao vivo de “Spank Thru”, cuja versão oficial em estúdio havia sido lançada apenas na coletânea Sub Pop 200, de 1988.
Krist Novoselic de volta à música (1997)
Este episódio faz parte da lista mais por ser o primeiro sinal de vida de Krist Novoselic pós-Nirvana do que propriamente pela importância do trabalho. Depois de Dave Grohl se dar bem com o Foo Fighters, em 1997 foi a vez de Krist Novoselic apostar suas fichas. Mas, diferentemente do primeiro, o baixista do Nirvana não foi bem-sucedido com o projeto Sweet 75. Tendo como parceira a cantora venezuelana Yva Las Vegas, o disco de estreia decepcionou os fãs do Nirvana e foi recebido friamente pela imprensa. Após este fracasso, veio outro. Em 2002, Krist lançou junto com Curt Kirkwood (Meat Puppets) e Bud Gauch (Sublime) o único disco do Eyes Adrift, que não teve destino melhor que o Sweet 75. O mais novo projeto do baixista é a banda Giants In The Trees, cujo disco de estreia foi lançado em 2017, também sem muito alarde. Mais interessantes são outros dois projetos dos quais Krist Novoselic participou. Em 2007, ele assumiu o baixo do Flipper, grupo de pós-punk que teve grande influência sobre o Nirvana. Com a banda Krist gravou dois discos: Love, com material inédito registrado em estúdio, e Fight, ao vivo, ambos lançados há dez anos. Menção honrosa também para a participação dele no No WTO Combo, que contava também com Jello Biafra (Dead Kennedys) e Kim Thayil (Soundgarden). A banda lançou um disco ao vivo em 2000, Live From The Battle Of Seattle, gravado um ano antes, nas manifestações que tomaram as ruas da cidade-berço do grunge, durante reunião de líderes da Organização Mundial do Comércio.
Kurt & Courtney (1998)
Em fevereiro deste ano estreou o primeiro documentário a ter grande repercussão, por defender a tese de que o líder do Nirvana fora assassinado. A suposta criminosa? A viúva, claro. Dirigido por Nick Broomfield, o filme foi exibido pela BBC. Chegou também a ter sua exibição agendada para o Festival de Sundance, mas os organizadores desistiram depois de serem ameaçados de processo por Courtney Love. Familiares e amigos de Kurt Cobain, autoridades policiais e alguns outros sujeitos sinistros de credibilidade questionável são ouvidos no documentário. Dylan Carlson, o amigo que comprou a arma com a qual Kurt teria tirado a própria vida (ou sido assassinado!), aparece também. O clímax é o depoimento do cantor punk El Duce, no qual afirma que Courtney teria lhe oferecido 50 mil dólares para matar o esposo. Ele também diz saber quem matou Kurt, mas que prefere deixar que o FBI descubra. Dois dias depois de ser entrevistado para o documentário, El Duce morreu atropelado por um trem. Portanto, prato cheio para quem gosta de teorias da conspiração. Atulamente, o filme está à disposição para ser visto pelos assinantes da Netflix no Brasil.
Mais Pesado Que o Céu (2001)
A década seguinte ao suicídio de Kurt Cobain foi marcada por uma enxurrada de lançamentos literários sobre a vida do músico e a banda, que começavam a ser revistos com o devido distanciamento histórico, que permite interpretar melhor a carreira e o legado do artista. E é isso o que faz a primeira grande biografia de Kurt Cobain, Heavier Than Heaver, lançada em 2001. Ela foi escrita pelo jornalista Charles R. Cross, que por 15 anos foi editor do The Rocket, jornal musical de Seattle publicado entre 1979 e 2000. Com ampla pesquisa de arquivo e muitas entrevistas com pessoas próximas a Kurt em todas as fases da vida do cantor, o biógrafo conseguiu fazer um retrato apurado do líder do Nirvana. O livro foi lançado por aqui em 2002, com o título Mais Pesado Que o Céu. Em 2014, quando se completaram 20 anos do fim trágico do Nirvana, Charles R. Cross lançou outro livro, Here We Are Now: The Lasting Impact On Kurt Cobain (no Brasil chamado Kurt Cobain: A Construção do Mito). Esta obra é um olhar atento sobre o que representava o Nirvana duas décadas depois de ter transformado a cultura pop mundial.
Nossa Banda Podia Ser Sua Vida (2001)
Seguindo a onda de excelentes publicações que começaram a surgir à época e que tinham o Nirvana como mote, neste ano também foi lançado o livro Our Band Could Be Your Life: Scenes From American Indie Underground 1981-1991, do jornalista Michael Azerrad. Ele mostra como o Nirvana e a explosão do rock alternativo no início dos anos 90 não aconteceu por acaso. Ao resgatar a história de 13 bandas – entre elas Black Flag, Mission Of Burma, Minor Threat, Dinosaur Jr, Sonic Youth, Beat Happening, Hüsker Dü e Replacements – Azerrad interliga cenas musicais diversas da década de 1980 nos Estados Unidos que, embora pequenas, foram influentes e deram a base de fãs necessária para que o Nirvana saltasse do underground ao mainstream com o álbum Nevermind, em 1991. Com tradução do título ao pé da letra, Nossa Banda Podia Ser Sua Vida ganhou edição brasileira no final do ano passado. Azerrad também é autor de Come As You Are: A História do Nirvana, a biografia oficial do Nirvana, de 1993. Uma longa entrevista de Michael Azerrad com Kurt também deu origem ao cultuado documentário About a Son – Retrato de Uma Ausência, de 2006.
“You Know You’re Right” (2002)
A última canção de estúdio gravada pelo Nirvana foi lançada em 2002, na coletânea também batizada Nirvana. Editada como single para promover a compilação de sucessos, “You Know You’re Right” levou o trio de volta ao topo das paradas da Billboard e teve ampla divulgação na MTV, deixando mais do que evidente que havia uma base gigante de fãs sedentos por material inédito. Quem acompanhava a carreira da viúva de Kurt Cobain, Courtney Love, logo lembrou que a composição inédita do Nirvana havia sido tornada pública pelo Hole em 1995, em show da banda para a série Unplugged MTV. A faixa foi apresentada pelo Hole com o nome de “You’ve Got No Right”. A versão do Nirvana foi gravada poucas semanas após o lançamento do álbum In Utero, no final de 1993.
Os diários de Kurt (2002)
Se o livro Mais Pesado Que o Céuapresentava uma visão ampla da vida e da carreira de Kurt Cobain, a publicação dos diários do músico mergulhou os fãs na intimidade e na mente do líder do Nirvana. Journals não ganhou edição em português, o que se justifica pelo fato de o livro ser a reprodução exata das centenas de páginas em que o músico registrou, através de escrita e desenhos, seus aspirações, alegrias e frustrações. Estão lá esboços de letras que se tornariam famosas, de capas de discos que foram ou não lançados pelo grupo, as famosas listas de preferências do vocalista. O que salta aos olhos na leitura dos diários é a transição do problemático jovem músico que sonhava em se tornar rockstarem uma estrela mundial deprimida pelo sucesso e o vício, que já anunciava a própria morte em seus cadernos íntimos.
Fragmentos de Uma Autobiografia (2002)
Também neste ano, o jornalista brasileiro Marcelo Orozco lançou um título sobre o líder do Nirvana. Kurt Cobain: Fragmentos de Uma Autobiografia, chegou às livrarias pela saudosa Editora Conrad. Na obra, Orozco se propôs a fazer aquilo que o próprio biografado desencorajou o público a tentar: atribuir significados biográficos às composições (“cansei de ver pessoas querendo por sentido em minhas letras”, disse uma vez Kurt). Em geral, percebidos como difíceis de decodificar, os versos do compositor continuam inspirando e desafiando os fãs ao longo dos anos. De um jeito ou de outro, Orozco consegue fazer em seu livro um apanhado razoável da vida de Cobain e a obra merece crédito por isso. O autor justificou sua motivação. “Em sua música, Kurt soltava raiva quando sentia raiva; era doce quando se sentia doce; despachava rancores e pedia desculpas quando magoava alguém; tinha tristeza e humor. Imperfeito, complexo, vivo. E transparente, mesmo quando os versos pareciam enigmas sem sentido para outras pessoas”, afirmou o jornalista.
De grunge e governo (2004)
Após o fim do Nirvana e com os novos projetos musicais que não deram certo, o baixista Krist Novoselic passou a se dedicar a causas sociais e, principalmente, políticas. Um dos temas que mais o motivam é a revisão do processo eleitoral dos Estados Unidos. Desde 2005, ele é um dos mais ilustres membros da FairVote, organização fundada em 1992 em defesa desta causa. Um ano antes de entrar para a FairVote, Krist Novoselic publicou o livro Of Grunge and Government: Let’s Fix This Broken Democracy. Na obra, sem tradução para o Brasil, o músico e ativista expôs suas críticas e propostas para modernizar as eleições naquele país. E também explicou o seu interesse tardio pela política: “Eu costumava acreditar na retórica punk que defendia o completo abandono das instituições, a lógica sendo que nosso governo é a fonte da injustiça, então ele é o problema. Meu erro foi confundir hipocrisia, abuso de poder e a exclusão alimentada pelo nosso sistema eleitoral falido com sistema democrático. De modo errado eu me separava do meu governo. Hoje em dia, muitos cidadãos estão cometendo o mesmo erro.”
With The Lights Out (2004)
Após batalhas judiciais que se estenderam por anos pelos direitos do espólio do Nirvana, foi lançado em novembro de 2004 o box With The Lights Out. Formado por três CDs e um DVD, este material deu caráter oficial a uma série de gravações ao vivo, demos e faixas lançadas de forma avulsa pelo Nirvana em tributos, trilhas sonoras e afins. São 61 faixas de áudio e outras 20 registradas em vídeo no DVD. É ainda a melhor antologia do Nirvana: cobre toda a carreira da banda, desde o começo em Aberdeen em 1987 até o seu final em Seattle, em 1994. Uma das faixas mais interessantes é o cover de “Seasons In The Sun”, do cantor Terry Jacks, presente no DVD. Gravada em estúdio no Rio de Janeiro, em 1993, tem Kurt Cobain no vocal e bateria, Krist Novoselic na guitarra e Dave Grohl no baixo. Com essa mesma formação, a banda também tocou a música na caótica apresentação do festival Hollywood Rock, em São Paulo.
Classic Album: Nevermind (2005)
Produzida pela Isis Productions e distribuída pela Eagle Rock Entertainment, Classic Albums é uma série de documentários para TV/DVD sobre discos que se tornaram legendários. Com entrevistas com músicos, produtores, jornalistas, empresários e quem mais puder contribuir para contar uma boa história sobre os registros destes álbuns, a série é um prato cheio aos aficionados em música pop. Em 2005, Nevermindfoi esmiuçado em um dos episódios. Krist Novoselic, Dave Grohl e o produtor Butch Vig deram seus depoimentos sobre os bastidores das gravações. Chama atenção como, mesmo depois de tanto tempo desde o lançamento, os três ainda se mostram surpresos com o tamanho do sucesso alcançado por Nevermind, registrado pela modesta quantia de 60 mil dólares. Dave Grohl: “eu não pensava que estávamos gravando um álbum clássico, apenas pensava que ele soava bem”. Krist Novoselic: “este disco é o que de melhor eu fiz na minha vida”.
Live At Reading (2009)
São muitos os que dizem, inclusive membros do Nirvana, que a melhor apresentação em toda a história do grupo foi a do Reading Festival, no dia 30 de agosto de 1992, época em que o Nirvana e o grunge eram fenômeno mundial. Junto a isso, os vícios e as overdoses de Kurt Cobain já alimentavam a imprensa, sendo as vidas dele, da esposa Courtney Love e da filha Frances Bean estampadas com frequência nas capas dos tabloides sensacionalistas britânicos. Quem não se lembra das reportagens que afirmavam que Courtney havia usado continuamente heroína durante a gravidez e que a filha do casal havia nascido viciada? Vivendo em um mundo onde caos pode ser a palavra definidora, muitos duvidavam de que Kurt apareceria para fechar a noite grunge do Festival. Até mesmo os membros do Nirvana estavam receosos sobre se conseguiriam fazer uma apresentação à altura da expectativa que havia sobre a “maior bando do mundo” na época. Dave Grohl: “Eu realmente pensei, ‘Isso será um desastre. Será o fim da nossa carreira’. E aí acabou sendo um show maravilhoso que nos curou por um tempinho”. Em 2009, Live At Reading foi lançado em áudio e vídeo para todos poderem ver e ouvir porquê esta ser considerada uma apresentação histórica. Além de músicas conhecidas, naquela o Nirvana antecipava outras que estariam em In Útero (“Tourette’s”, “All Apologies”) e fez versões de “The Money Will Roll Right In” (do Fang), “D-7” (do Wipers) além da já popular entre os fãs “Love Buzz” (do Schocking Blue). Não há como citar a entrada de Kurt no palco naquela noite, empurrado em uma cadeira de rodas e vestindo um jaleco de doente, fazendo piada com os rumores a respeito da própria saúde.
Os vinte anos de Nevermind (2011)
O 20º aniversário do disco Nevermind foi marcado pelo lançamento de um box supercaprichado, disponível em diversos formatos: vinil quádruplo, 4 CD + DVD ou CD duplo. Além do álbum “normal”, dependendo da versão que os fãs adquirissem, o material oferecia b-sides, versões inéditas, demos e faixas ao vivo. É verdade que boa tarde do material já estivesse disponível nos incontáveis bootlegs do Nirvana, mas não com a qualidade agora oferecida. Do material que marcou a efeméride, o mais interessante é a gravação da apresentação realizada em 31 de outubro de 1991. O show também foi lançado só em vídeo, com o título Live At The Paramount. A apresentação é o marco zero da Nirvanamania. Vale lembrar que o mesmo show havia sido dissecado pelo jornalista brasileiro André Barcinski no livro Barulho, lançado em 1992. Ele esteve lá, gostou muito do que viu e profetizou na época: “O legal do Nirvana é que eles ainda não têm uma história. Ela está sendo contada agora. Daqui uns dez ou vinte anos, a gente vai poder falar daquela ‘loucura do final de 91’”.
Os vinte anos de In Utero (2013)
As duas décadas de In Utero receberam tratamento semelhante ao 20º aniversário de “Nevermind”. O último disco de estúdio do Nirvana foi relançado em: vinil triplo, CD duplo e 3 CD + DVD. Da mesma forma, o material era formado pelo álbum normal, b-sides, versões e faixas ao vivo. Mas dois itens merecem destaque. Um deles é o vídeo, também lançado separadamente, com o show Live And Loud,que o grupo gravou em Seattle em 13 de dezembro de 1993 e originalmente exibido pela MTV como um programa especial. Outro material de destaque é a versão “2013 Mix” de In Utero, lançada em vinil duplo e capa diferente, com uma nova mixagem de Steve Albini, produtor original do disco e conhecido pela crueza de suas gravações. À época, a mixagem feita por ele foi motivo de uma pequena polêmica. A lenda é de que os diretores da gravadora detestaram o disco. Os membros do Nirvana também ficaram em dúvida quanto ao resultado. Por fim, acabou que a mixagem original de Albini ficou polida na masterização e duas das faixas de maior potencial radiofônico (“Heart-Shaped Box” e “All Apologies”) foram remixadas por Scott Litt, produtor identificado pelo seu trabalho de sucesso com o REM. A versão “2013 Mix” de Steve Albini mostra um In Utero mais áspero do que o original.
Hall da Fama do Rock and Roll (2014)
Na noite de 10 de abril de 2014, quando a morte de Kurt completava 20 anos, o Nirvana passou a fazer parte do Hall da Fama do Rock and Roll. A cerimônia, realizada em Nova York, marcou a primeira vez que Krist Novoselic, Dave Grohl e o agregado Pat Smear voltaram a se apresentar como Nirvana. Tocaram quatro músicas, todas cantadas por mulheres: Joan Jett (“Smells Like Teen Spirit”), Kim Gordon (“Aneurysm”), St Vincent (“Lithium”) e Lorde (“All Apologies”). O discurso de introdução ficou por conta de Michael Stipe (REM). Momento fofura da noite foi a reconciliação no palco entre Courtney Love e Dave Grohl, brigados desde sempre após o fim do Nirvana. As comemorações se estenderam noite adentro em um bar, com um show de 19 músicas tocadas pelo Nirvana com a participação das mesmas cantoras, entre outros convidados.
Fotos inéditas do corpo (2014)
Além de muitas homenagens, os vinte anos da morte de Kurt Cobain ficaram marcados pelo retorno das teorias de que ele fora assassinado. Isso motivou o Departamento de Polícia de Seattle a divulgar cerca de vinte fotos do local e de como Kurt Cobain foi encontrado, como forma de refutar a hipótese de assassinato. Apenas partes como o braço ou o pé de Kurt Cobain aparecem em algumas das imagens. Ainda assim, algumas fotos são bastante perturbadoras. Retratos da arma usada também foram tornadas públicas em 2016.
Sonic Highways (2014)
Depois de fazer, em 2013, o documentário Sound City, que conta a história do estúdio onde o Nirvana gravou Neverminde outras bandas também fizeram álbum clássicos, Dave Grohl lançou no ano seguinte a série de TV Sonic Highways, exibida nos Estados Unidos pela HBO e no Brasil pelo Canal Bis. O documentário é dividido em oito episódios, retratando oito cidades-chave na história da música estadunidense: Austin, Chicago, Los Angeles, Nashville, Nova York, Nova Orleans, Seattle e Washington. Grohl percorreu estas cidades e entrevistou músicos e produtores e visitou locais fundamentais de cada cena musical ali surgidas. O resultado é brilhante e não está descartada uma segunda temporada da série. Já o disco de áudio do projeto, lançado como apêndice do documentário e gravado nas mesmas localidades, é o mais fraco do Foo Fighters. A série foi lançada em DVD e blu-ray em 2015.
Soaked In Bleach (2015)
A teoria da conspiração de que Kurt Cobain fora vítima de assassinato ganhou um novo capítulo em 2015. Soaked In Bleach, documentário dirigido por Benjamin Stattler, questiona a versão oficial do suicídio. Tem depoimentos de autoridades que trabalharam no caso da morte de Kurt e principalmente do ex-detetive Tom Grant, contratado por Courtney Love para encontrar o marido dias antes dele ser achado morto. O próprio Tom reforça a suspeita de que a história de “suicídio” não passa de farsa. Soaked In Bleach é explícito na intenção de acusar Courtney como assassina ou mandante do “crime”.
Montage Of Heck (2015)
Um dos projetos mais importantes relacionados a Kurt Cobain. O filme/disco/livro Montage Of Heckfoi um mergulho nos arquivos do ex-líder do Nirvana, com o consentimento de Courtney Love e da filha Francis Bean. Dirigido por Brett Morgen, o carro-chefe do projeto é o documentário, que remonta a história de Kurt da infância até o suicídio. Tem imagens tocantes, como do músico feliz da vida quando criança brincando, fazendo “música” e se divertindo valer. Outras cenas são perturbadoras, como o músico chapadaço em um momento família: o primeiro corte de cabelo da filha. Morgen teve trabalho para pesquisar e dar um sentido ao material que tinha em mãos. Foram quase oito anos entre o início da produção e o lançamento de Montage Of Heck. O disco resultante já é menos interessante, até mesmo porque muito do arquivo musical de Kurt já havia sido explorado exaustivamente. Mas uma joia foi encontrada: uma gravação de “And I Love Her”, coverdos Beatles cantado e tocado no violão e registrado sem maiores pretensões por Cobain, que virou o single promocional do projeto. Menos repercussão teve o livro homônimo. Uma injustiça, pois ele reúne as entrevistas completas para o documentário com o avô Don Cobain, a mãe Wendy O’Connor e a irmã Kim, além das falas de Courtney Love, Krist Novoselic e a ex-namorada Tracy Marander. O livro é ilustrado com muitas fotos de Kurt e frames das animações de Stefan Nadelman e Hisko Hulsing que foram utilizadas em muitos momentos do documentário, quando não havia registros em vídeo para situações vividas por Kurt.
Taking Punk To The Masses no Brasil (2017)
Entre junho e dezembro de 2017, primeiro o Rio de Janeiro e depois São Paulo, receberam a exposição Taking Punk To The Masses. Foi a primeira vez que ela saiu de Seattle, onde estava sendo exibida desde 2011 no Museu de Cultura Pop da cidade. Com mais de 500 itens, muitos deles icônicos, a coleção é o maior acervo sobre Kurt Cobain e o Nirvana no mundo. Para o Brasil, o curador Jacob McMurrey selecionou cerca de 200 peças. Entre elas: a fita demo original gravada por Jack Endino em 1988, o contrato da banda com a gravadora Sub Pop, manuscritos originais de letras de músicas, pôsteres, roupas, instrumentos musicais, credenciais. O visitante pôde interagir ainda mais com o mundo do Nirvana, a partir de instalações interativas ou se perdendo na coleção de 21 discos de artistas diversos selecionados por Krist Novoselic. Coisa para fã nenhum botar defeito.
Batalha judicial (2018)
Após quatro anos de uma disputa judicial entre o jornalista Richard Lee e o Departamento de Polícia de Seattle, a Justiça decidiu que as fotografias do corpo morto de Kurt Cobain jamais poderão ser divulgadas. Sobre o processo Frances Bean, filha de Kurt, disse: “Liberar estas fotografias machucaria fisicamente a mim e minha mãe. Não posso imaginar o quão terrível seria saber que as imagens que o Sr. Lee procura seriam públicas, ou que eu ou qualquer uma das pessoas que amo, incluindo a mãe e as irmãs do meu pai, poderiam vê-las acidentalmente. A publicação destas fotos me chocaria e reforçaria o estresse pós-traumático de que sofro desde a infância”. Richard Lee foi um dos primeiros jornalistas a questionar a versão de suicídio. Há mais de duas décadas, ele foi o responsável pelo documentário amador Kurt Cobain Was Murdered, exibido pelo canal a cabo Seattle Public Access TV. Ele insiste até hoje nesta versão.
Cal Jam (2018)
Em 6 de outubro de 2018, Krist, Dave e Pat mais uma vez se apresentaram como Nirvana. A reunião aconteceu no Cal Jam, festival promovido pelo Foo Fighters na California. Para os vocais, mais uma vez Joan Jett foi convidada (“Breed”, “Smells Like Teen Spirit” e “All Apologies”), assim como John McCauley, membro da banda Deer Tick (“Serve The Servants”, “Scentless Apprentice” e “In Bloom”). Desde então, Krist e Dave têm considerado seriamente a possibilidade de uma pequena turnê do Nirvana. Os fãs aguardam ansiosamente!
Lembrando Kurt Cobain (2019)
Neste último dia 2 de abril, foi lançado nos Estados Unidos um novo livro de memórias: Serving The Servant: Remembering Kurt Cobain. Ele foi escrito por Danny Goldberg, empresário do Nirvana e um dos melhores amigos de Kurt entre o início de 1991 até o fim trágico em 1994. Goldberg esteve no olho do furacão durante o período mais famoso e turbulento da banda. Agora, 25 anos depois, ele compartilha suas lembranças, com a ajuda de outras pessoas próximas que também deram seus depoimentos para o livro. “Da forma que eu vejo, quem antecedeu o nível de Kurt em se conectar com a angústia adolescente não se encontra no cânone do rock and roll, mas na ficção de JD Salinger, particularmente em O Apanhador no Campo de Centeio. Como nesta clássica novela dos anos 1950, a arte de Kurt deu dignidade aos oprimidos”, comentou Goldberg. Ainda não exisye previsão de lançamento deste livro no Brasil.
Live At The Paramount, o vinil (2019)
E o mais recente item oficial da discografia é o lançamento, agora em vinil, do show Live At The Paramount. É a mesma apresentação de 31 de outubro de 1991, que já havia sido lançada oficialmente em vídeo e também em áudio (na edição superluxo comemorativa aos vinte anos de Nevermind). A data oficial de lançamento deste vinil é o próximo dia 12 de abril. O disco virá acompanhado de um pôster e uma réplica do ingresso daquele show.
Sucesso de público no festival de Sundance e nos cinemas nacionais, trama de suspense leva o screen life às massas
Texto por Abonico R. Smith
Foto: Sony Pictures/Divulgação
Em seu livro Hitmakers – Como Nascem as Tendências, o jornalista e pesquisador deste assunto Derek Thompson sustenta a tese de que a maioria dos consumidores conseguem ser, ao mesmo tempo, tanto neofílicos (curiosos para descobrirem coisas novas) quanto neofóbicos (temem qualquer coisa que seja nova demais). Isso explica o sucesso de muita coisa que aparentemente sugere ser alguma ideia sensacional recém-implantada mas que não passa de uma reformulação na aparência de um conteúdo já tradicional. O que é o caso de Buscando…(Searching, EUA, 2018 – Sony Pictures), sucesso de público no último festival de Sundance, voltado a produções alternativas e independentes. O prêmio de melhor filme de júri popular garantiu ao longa um contrato mundial de distribuição e só aqui no Brasil ele já permanece quatro semanas em cartaz.
A premissa de Buscando…não é nada inédita. Anos depois de perder a mulher para um câncer, um pai de meia idade enfrenta outra intempérie na família: sua única filha, já adolescente e com quem costuma ter mais contato através de mensagens eletrônicas ao telefone do que pessoalmente, simplesmente desaparece sem deixar vestígios. Então ele faz começa uma incansável busca para saber o que teria acontecido, contando com o apoio de uma policial que assume oficialmente a investigação do caso (Debra Messing, da série de TV Will & Grace).
O desfecho até pode vir a decepcionar muita gente, exatamente porque o filme entrega um desenrolar da trama de suspense de modo diferente. Mas, como em uma pesquisa acadêmica de mestrado ou ainda no Caminho de Santiago, o mais interessante aqui não é o fim de tudo mas sim o processo, o durante, o meio. E este é algo que realmente fascina no filme assinado pelo diretor e corroteirista Aneesh Chaganty.
Acompanhamos todos os momentos de David Kim, a esposa falecida e a filha sumida (John Cho, mais conhecido como o Sulu da nova safra de filmes da franquia Star Trek) sem estar presente no mesmo ambiente que eles. Na verdade tudo se passa através de outras telas. A maior parte das vezes pelo computador ou celular, mas há ainda oportunidades em que nos deparamos com transmissões ao vivo de redes de televisão ou mesmo circuito integrado de câmeras de segurança. Não é raro, sobretudo quando o que se mostra é David vasculhando informações a respeito do paradeiro de Margot, que várias telas sejam abertas ao mesmo tempo. E-mail, redes sociais, messengers, websites oficiais… É a ilusão do cinema do século 21, a de fazer parecer tudo acontecer simultaneamente em tempo real, através das novas tecnologias.
A esta metodologia narrativa se dá o nome de screen life (a vida através de telas de computadores) e está sendo a grande aposta do produtor russo Timur Bekmambetov, o nome por trás deste filme e que escolheu estrategicamente Chaganty para a direção pelo fato deste já ter trabalhado no Google. Antes deste Buscando…ele já lançou um longa de terror chamado Amizade Desfeita (no qual a tela do cinema é um computador que mostra amigos adolescentes conversando ao mesmo tempo, cada um em um local diferente) e atualmente trabalha em mais de uma dezena de projetos do tipo. Tudo mais do que perfeito para o consumidor neofílico neofóbico.
E é justamente isso o maior atrativo de Buscando…e o que parece estar prendendo a atenção de pessoas que vão ao cinema para desligar o seu celular mas continuar com os olhos fixos em aplicativos, redes sociais ou messengers. Em tempo de eleições definidas pelo uso maciço do WhatsApp e a apelação diária para as fake news quem é que vai se interessar mesmo pela conclusão deste filme?