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Neymar: O Caos Perfeito

Série documental falha ao tentar vender imagem de “super-herói da vida real” do mais famoso jogador brasileiro da atualidade

Texto por Fábio Soares

Foto: Netflix/Divulgação

Quando explodiu no Santos no biênio 2009/2010, Neymar Jr era a luz no fim do túnel do futebol brasileiro. Maior estrela da Vila Belmiro depois de Pelé, o raio a cair pela segunda vez no mesmo lugar, bendito fruto da água santista formadora de craques. Nada poderia dar errado na carreira do astro que ali nascia, certo?

Errado! Neymar: O Caos Perfeito (Brasil/EUA, 2022 – Netflix), série documental dividida em três episódios, tinha tudo para dar certo ao mostrar a gênese, apogeu e a (ainda) não queda de um dos atletas mais nem pagos do mundo em todos os tempos. Escancara porém, o que todos sabiam. O superego insuflado do craque possui um alimentador tenaz e implacável: seu progenitor.

Neymar “Pai” não é apenas o tutor da carreira do filho. É a mola propulsora que impulsiona um conglomerado movido a arrogância, autoindulgência e verbalização das palavras “imagem”, “carreira” e “marketing” por quatrocentas vezes ao dia ao menos. A obsessão pelos números e a blindagem em volta do jogador são tantas que somos obrigados a ouvir frases do tipo “Tenho que ficar de olho nele 24 horas por dia porque sei que, se me descuidar um minuto, alguém se aproveitará da ingenuidade dele”. Ingenuidade? De um sujeito com 28 anos à época e no dia de hoje chegando aos 30?

Na tentativa de não parecer chapa branca demais, o documentário mostra a aversão de boa parte da torcida brasileira às atitudes de Neymar Jr fora de campo com a inserção de drops de programas esportivos e depoimentos muito críticos de jornalistas renomados como Juca Kfouri. Mas a estratégia do roteiro é bem clara: mostrar que o jogador não é unanimidade em alguns momentos de sua carreira, como nas inúmeras vezes em que literalmente foi esculhambado pela torcida do PSG num embate contra o Strassburg, pela Liga Francesa para (logo a seguir) ressurgir das cinzas com lances magistrais. Olhares mais ingênuos cairão nesta armadilha, com certeza.

Das improváveis viradas na escalada até a final da Champions League na temporada 2019/2020 à convivência com o filho e ar blasé carregado em frases como “Dane-se a cobrança dos outros em cima de mim”, revelando como o dinheiro e sucessos estratosféricos podem tirar um ser humano do prumo de seu centro gravitacional. Adora o menino Ney? Assista. Você o execra? Assista, também. Para o bem ou para o mal, afinal, temos que reconhecer que a figura de Neymar Jr jamais passará incólume pelos holofotes. Holofotes da bola. Dos tablóides de celebridades. Do mundo do esporte.

As cartas estão na mesa e a decisão é sua.