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Weezer – ao vivo

Quarteto volta ao Brasil após quase uma década e meia com repertório de clássicos misturados a covers especiais

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Texto por Bruno Castro

Foto: Weezer/Reprodução

O Weezer se apresentou na quinta feira 26 de setembro em São Paulo, no Ginásio do Ibirapuera. Para alguém que como eu cresceu e vivenciou os anos 1990 na infância e adolescência, um flash de coisas passou pela cabeça.

A banda abriu o show com “Buddy Holly”, uma das mais famosas do álbum de estreia. Na sequência, foi mantendo o clima no topo com “Undone – The Sweater Song” (do mesmo debut, de capa azul) e “Hash Pipe” (do terceiro, de capa verde). No set estavam incluídas uma série de canções alheias extraídas do recém-lançado álbum de covers, como “Africa” (Toto), “Take On Me” (a-ha) e “Happy Together” (Turtles). Esta foi uma viagem bem encantadora rumo aos anos 1960 com direito a inclusão de trecho de música do Green Day, mas foram em músicas como “The Good Life” (do segundo álbum) e “Island In The Sun” (do terceiro) é que a banda mostrou toda a sua versatilidade emulada na geração 1990 do rock alternativo, da qual tornou-se um dos principais representantes.

“My Name Is Jonas” (do “Blue Album”), “El Scorcho” (de Pinkerton) e “Porks and Beans” (uma das mais recentes do set, do disco de capa vermelha, de 2008) deram ânimo a varias pessoas vistas cantarolando durante o show. O vocalista Rivers Cuomo, por sua vez, esbanjou simpatia. Disse que SP era o par perfeito, Falou ainda diversas vezes que amava todos nós. Uma espécie de dívida que foi paga com uma apresentação incrível – afinal o quarteto americano só havia tocado antes no Brasil uma única vez, em Curitiba, em 2005.

Os mais saudosistas ainda foram recompensados com duas covers especiais: “Paranoid” (Black Sabbath) e “Lithium” (Nirvana). Mas o encerramento do concerto –  com direito a uma versão a cappella de Buddy Holly e gran finale trazendo a maravilhosa “Say It Ain’t So” (mais um resgate do álbum de estreia e o primeiro das obras batizadas com o nome da banda e que se diferenciam pelas cores de suas respectivas capas) – deu a chave de ouro uma noite que fez passar um filme na mente de todos os que estavam na pista meio vazia do Ibirapuera.

Depois disso, resta esperar que o Weezer não demore mais uma década e meia para voltar a se apresentar no Brasil.

Set list: “Buddy Holly”, “Undone – The Sweater Song”, “Hash Pipe”, “My Name Is Jonas”, “Happy Together/Longview”, “Holiday”, “Island In The Sun”, “Perfect Situation”, “Take On Me”, “The End Of The Game”, “Surf Wax America”, “Africa”, “The Good Life”, “El Scorcho”, “Paranoid”, “Porks And Beans”, “Beverly Hills” e “Lithium”. Bis: “Buddy Holly (a cappella) e “Say It Ain’t So”.

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Vanguart

Quarteto faz sua homenagem ao ídolo Bob Dylan em álbum-tributo que reúne muitas faixas de sua fase áurea nos anos 1960 e 1970

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Texto por Janaina Monteiro

Foto: Juan Pablo Mapeto/Divulgação

Bob Dylan é um gênio com suas crônicas e poesias rimadas e musicadas no gênero folk. Por conta de sua complexidade e riqueza artística incomparável, ouvidos menos treinados sempre encontrarão certa dificuldade em absorver sua arte. A voz rouca e o timbre anasalado do cantor e compositor norte-americano podem soar um tanto enjoativo para alguns e as canções quase intermináveis são compridas demais para cativar a atenção das novas gerações acostumadas com a fluidez das coisas. Acompanhar “Hurricane” do começo ao fim, por exemplo, exige uma dose extra de paciência.

Por isso, o recém-lançado álbum do Vanguart é um alento para quem gosta de Bob Dylan. Com uma roupagem despretensiosa e leve, Vanguart Sings Dylan (DeckDisc) é perfeito para se ouvir numa manhã de domingo ou durante uma loooonga viagem ao lado de uma agradável companhia, o que renderá um bom papo cabeça durante o percurso.

A bem da verdade as versões não são tão vanguardistas e seguem à risca o jeito Dylan de ser. Há covers que de tão fiéis às originais ficam quase impossíveis de se distinguir até surgir o vocal. Como “Hurricane” (que conta a história da prisão indevida do boxeador Rubin “Hurricane” Carter) interpretada pelo guitarrista David Dafré (que recebeu esse fardo por saber a letra com 880 palavras de cor).

A banda do vocalista Helio Flanders pode até resistir em inovar nos covers até mesmo para não macular a obra do bardo, mas nos presenteia com surpresas como a bela interpretação da violinista Fernanda Kostchak em “The House Of The Rising Sun”. À medida que se vai escutando o álbum fica clara a intenção da banda em gravar um tributo reverenciando o compositor, instrumentista autodidata, que foi grande influência para dezenas de artistas mundo afora. Aliás, essa homenagem até demorou para ser gravada em disco, porque o Vanguart sempre flertou com Dylan, tocou-o ao vivo e até gravou um especial com covers dele para o Canal Bis.

O deus do folk era respeitado, venerado no meio artístico, sobretudo nos anos 1960 e 1970 e continua sendo um grande influencer para artistas contemporâneos. Entre seus principais discípulos estão Beatles (a quem Dylan teria introduzido a marijuana) e Rolling Stones (que regravaram o clássico de Dylan “Like a Rolling Stone”). Claro que é preciso uma certa dose de preparo para consumir suas composições com seis, oito minutos de duração e seus versos com rimas impecáveis. Goste ou não, Dylan é nome de mestre. Que aprendeu de ouvido a tocar piano e violão. E com seu olhar detalhista, a observar e traduzir o mundo e suas reviravoltas, o que lhe rendeu um prêmio Nobel de literatura em 2016.

No Brasil, ele continua sendo fonte de inspiração para muitos cantores – principalmente do Nordeste – que se aventuraram no árduo e complexo trabalho de traduzir o punhado de canções mais famosas e transpor os versos em inglês impecável para a língua portuguesa. O primeiro que me vem à cabeça e cuja aura mais se aproxima do norte-americano é Zé Ramalho. O paraibano lançou em 2008 um disco com versões de Dylan, como “Knockin’ On Heaven’s Door” Mas a tradução fidedigna do refrão, por exemplo, destoa da versão original: como encaixar “céu” no mesmo acorde de “door” (“Bate, bate, bate na porta do céu”)?.

Outra versão que deve ter dado trabalho foi a de “Romance em Durango” gravada pelo cearense Fagner, que nos primeiros versos dá uma velocidade que mais parece um desespero atropelado para casar letra e música. As rimas originais desaparecem na tradução também fiel à original. A primeira estrofe (“Hot chilli peppers in the blistering sun/ Dust on my face and my cape/ Me and Magdalena on the run/ I think this time we shall escape”) se transformou em “Pimenta quente no sol escaldante/ Poeira no meu rosto e minha capa/ Eu e Madalena na corrida/ Acho que desta vez vamos escapar”.

Esses exemplos levam a concluir que a arte de Bob Dylan deve se perpetuar na língua inglesa. É preciso ouvi-lo no original, caso contrário, pode se perder todo o sentido. Por isso, o álbum de Vanguart é tão significativo por respeitar a voz e a língua do compositor.

Quinze das dezesseis faixas contemplam a primeira fase da sua obra entre suas décadas mais expressivas. Começa com baladas mais suaves como “Tangled Up In Blue” e “Don’t Think Twice it’s All Right”, “Just Like a Woman” (com a clássica gaita na introdução), “Hurricane” e “Like a Rolling Stone” aparecem em sequência, mais para o final do álbum que encerra com a obra-prima “Blowin’ In The Wind”, hino entoado em coro pela banda. Claro que faltam singles bastante conhecidos, como “Knockin’ On Heavens door” (escrita em 1972 por Dylan para o filme Pat Garrett & Billy The Kid) e “Mr. Tambourine Man”. Entrada e prato principal para um segundo Vanguart Sings Dylan, quem sabe.