Music

Judas Priest + Alice In Chains + Black Star Riders – ao vivo

Festival mostra em Curitiba que o hard rock e o heavy metal são duas vertentes do rock que sobrevivem do passado de glórias

judaspriest2018cwb

Judas Priest

Texto por Abonico R. Smith

Fotos de Priscila Oliveira (CWB Live)

Volta e meia alguém diz por aí que o rock virou coisa de velho. De certa forma isto não deixa de estar correto. Pelo menos em cima do palco. Pelo menos no que depender da dobradinha hard rock/heavy metal. Calcados na mistura de guitarras pesadas construídas com base em riffs cíclicos e refrãos potentes, daqueles que têm o poder de comandar o uníssono de uma multidão em estádios e arenas, esses gêneros andam mostrando que ainda não souberam se renovar muito neste início de século. Poucas bandas de popularidade e representatividade sonora surgiram e os grandes baluartes que solidificaram a fama das vertentes durantes os anos 1970 e 1990 continuam por aí, firmes e fortes, carregando hordas de fãs para vê-los por onde passam. Aliás, com o império do formato MP3, anteriormente em troca de arquivos P2P e já há algum tempo como sucesso de plataformas de streaming, parece que ficaram ainda mais fortes, já que toda música mais antiga está sendo descoberta e consumida como novidade para uma geração que não conhece direito que função tem (ou tinha) um disco de vinil ou a laser. Isso explica o que se viu na Pedreira Paulo Leminski, em Curitiba, na noite de 8 de novembro de 2018.

Na nova edição do festival Solid Rock – que reúne bandas de som pesado com a carreira já solidificada – quem era o headliner era o Judas Priest. Quinteto inglês que pode ser considerado o marco de transição entre o hard rock e o heavy metal, com “somente” quase meio século de carreira. Nos vocais, uma figura lendária do gênero, Rob Halford, já com 67 anos – mesma idade do baixista Ian Hill, o único remanescente da formação original. Antes dos britânicos, os americanos do Alice In Chains, banda formada há 31 anos na cidade de Seattle e um dos nomes responsáveis pelo hype e torno da cidade e do rótulo grunge no início dos anos 1990. Somando os dois já são oito décadas de trajetória.

Quem abriu os trabalhos da noite foi o Black Star Riders, banda relativamente nova – foi formada em 2012, mas que surgiu das quase cinzas do Thin Lizzy, histórica formação de hard rockque deu seus primeiros passos na capital irlandesa Dublin em 1969 e que teoricamente continua em atividade. Um de seus guitarristas, Scott Gorham, entrou para o grupo em 1974 e gravou do quarto ao décimo segundo (e último) álbum do grupo, lançado em 1983, um pouco antes do encerramento das atividades. Em 1996, o Thin Lizzy decidiu voltar de forma não regular, reunindo-se apenas para shows. Dois dos integrantes recrutados nesta nova “fase da banda” (o vocalista Ricky Warwick e o também guitarrista Damon Johnson) montaram o BSR com Gorham quando decidiram não usar mais o nome da antiga banda. Resumindo: quase todo mundo ali nas três bandas já atingiu a quinta dezena na idade e quem ainda não o fez está quase lá. Exceções apenas para os “bebês” Chad Szeliga (baterista do BSR, que soprará 42 velinhas em dezembro) e Richie Faulkner (que completará 39 quando os fogos de artificio anunciarem a chegada do próximo ano).

Com três álbuns lançados entre 2013 e 2017, o BSR pode não usar oficialmente o nome do Thin Lizzy mas se dedica a manter viva a chama da banda irlandesa. Não por acaso tocam alguns covers. Na capital paranaense apareceram no set list megahit “The Boys Are Back In Town” e “Jailbreak”, ambas faixas do álbum Jailbreak, de 1976, que ganhou disco de ouro pelas vendagens nos mercados do Reino Unido, Estados Unidos e Canadá. De resto, tocam músicas bem recentes que poderiam estar muito bem no repertório de outrora, com melodias fortes, pitadas de blues e arranjos que desfilam aquele hard rock clássico setentista.

aliceinchains2018cwb

Alice In Chains

O Alice In Chains subiu ao palco determinado a privilegiar a primeira fase da banda, quando o cantor ainda era o doidão Layne Staley, morto por overdose em 2002. Das quinze músicas do set list, dez foram gravadas pela banda entre 1990 e 1995. Somente cinco representam o período da retomada da carreira, quando o guitarrista, compositor e covocalista Jerry Cantrell encontrou um vocalista à altura (William DuVall, vindo do circuito do hardcore norte-americano) e pôs um fim ao hiato de seis anos da banda, que durou entre 1996 e 2002. Apenas duas vieram representando o disco mais recente, Rainier Frog, lançado em agosto último. Grande parte do público nem estava aí se DuVall é mais técnico no gogó e também um bom instrumentista. Esses se esbaldaram nos velhos hits como “Man In The Box”, “Them Bones, “Down In A Hole” e “Would?”.  O grunge parecia uma revolução feita aqui e agora na Pedreira.

Já o Judas Priest foi ainda mais além no mergulho rumo ao passado. Quatro faixas do repertório vieram do novo álbum Firepower (lançado em março último) e as outras quinze do período entre 1976 e 1990, quando a banda abriu os caminhos do heavy metal para toda uma grande e nova geração britânica (Iron Maiden, Venom, Motörhead, Saxon, Def Leppard), americana (Metallica, Slayer, Exodus, Anthrax, Pantera, Testament) e de outros países como Brasil e Alemanha. A nova dupla de guitarristas mostrou não temer o peso de substituir lendas como KK Downing (que optou por deixar a formação em 2011) e Glenn Tipton (afastado por sofrer do Mal de Parkinson). O “protagonista” dos solos William Faulkner, apesar da “pouca” idade, apredneu direitinho com seus deuses e ídolos do instrumento. Já Andy Snead, produtor de Firepower, revela-se totalmente integrado à turma na atual turnê. Rob Halford, por sua vez, compensa com os fatos de ter carisma e cantar muito a falta de uma performance mais incisiva. Também volta e meia troca de figurinos a la Katy Perry (abusa de muitas capas e casacos, indo do prateado de excessivo brilho ao couro preto sadomasô, passando pelo inevitável jeans) e guarda para o final a triunfante entrada no palco ao som do ronco de uma moto Harley Davidson.

Os clássicos matadores “Breaking The Law” e “Living After Midnight” foram estrategicamente guardados para encarrar o set em uma noite que provou que gêneros como hard rocke heavy metal parecem estar ficando que nem vinho: quanto mais antigos, melhor. O que também pode significar uma grande maldição para os próximos anos, quando toda essa turma de pioneiros e grandes heróis não estiverem mais em disponíveis.

Set list Black Star Riders: “All Hell Breaks Loose”, “Jailbreak”, “Finest Hour”, “Heavy Fire”, “The Killer Instinct”, “Before The War”, “When The Night Comes In”, “The Boys Are Back In Town”, “Kingdom Of The Lost” e “Bound For Glory”.

Set list Alice In Chains: “Check My Brain”, “Again”, “Never Fade”, “Them Bones”, “Dam That River”, “Hollow”, “Down In a Hole”, “No Excuses”, “We Die Young”, “Stone”, “Angry Chair”, “Man In The Box”, “The One You Know”, “Would?” e “Rooster”.

Set list Judas Priest: “Firepower”, “Running Wild”, “Grinder”, “Sinner”, “The Ripper”, “Lightning Strike”, “Desert Plains”, “No Surrender”, “Turbo Lover”, “The Green Manalishi (With The Two Prong Crown)”, “Night Comes Down”, “Rising From Ruins”, “Freewheel Burning”, “You’ve Got Another Thing Comin’”, “Hell Bent For Leather”, “Painkiller”, “Electric Eye”, “Breaking The Law” e “Living After Midnight”.